sábado, 23 de janeiro de 2010

Entrevista especial com Adriana, missionária de nossa Arquidiocese



Adriana, jovem maringaense da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, que realiza trabalho missionário a 3 anos e meio na Guiné-Bissau, no Continente africano, é entrevistada na Rádio Colméia, no programa Família Colméia, no dia 08 de janeiro de 2010.

Confira a entrevista!

Pedrina de Souza- Vamos começar falando de você. Quem é a Adriana e o que você fazia antes de ir para África?
Adriana - Meu nome é Adriana Massai Nichiama, sou descendente de japoneses. Nasci em Maringá, pertenço a Paróquia Sagrado Coração de Jesus, sou solteira, tenho 32 anos, tenho curso superior incompleto de Química, estudei na UEM. Tenhos 3 irmãos, meu pai chama-se Pedro Nichiama e minha mãe Maria Nichiama e moram aqui em Maringá. Eu comecei como catequista, depois trabalhei muitos anos na Pastoral da Juventude, colaborei também na Pastoral do Adolescente e finalmente me tornei Ministra de Eucaristia.

PS- Como foi que despertou, no seu coração, este desejo de evangelizar além fronteira? Afinal você já atuava na evangelização dentro da sua paróquia.
A- Em 1999, a Arquidiocese de Maringá, através da PJ, organizou um Tríduo Missionário que ocorreu em Paiçandu, e em 2000 foi em Marialva. Eu participei destas duas atividades da PJ. Numa dessas missões eu conheci dois seminaristas africanos da Tansânia. Eles estudavam no seminário em São Paulo-SP e vieram participar destas atividades. Eles se hospedaram na minha casa e durante nossas conversas, eles foram falando um pouco do país deles e o trabalho que realizavam. Isso foi despertando em mim a vontade de ir para as missões na África. Você pode perguntar: mas por que África? É difícil explicar, mas eu senti aquele chamado. E não era para ir para o Japão ou ficar aqui no Brasil. Eu senti como se Deus estivesse me chamando: “vai para África fazer um trabalho para aquele povo”.

PS- Então você tinha aquele desejo de ir para África guardado em silêncio no seu coração e resolveu externar este desejo. Para quem? Foi para os seus pais, um amigo, um sacerdote? Com quem você conversou sobre aquele desejo?
A- Comecei comentando com algum amigo meu; depois conversei com alguns sacerdotes. Quando comentei com meus pais que eu queria trabalhar nas missões, e trabalhar na África, meu pai falou como eu poderia deixar tudo aqui. Ele me disse: “aqui você tem casa, trabalho e sua família. Você não é feliz aqui?” Ele me fez esta pergunta, eu me lembro. Bem, eu respondi: “eu sou feliz aqui, porque eu estou com minha família”. Mas me faltava alguma coisa para me preencher. Então eu sabia – pois todas as vezes que eu comentava com eles: eu vou para missão, era uma discussão em casa – que iria me preparar meio quieta e que quando chegasse o momento, então, eu falaria para eles: “eu estou indo para as missões”. Eu acho que Deus vai te preparando e na hora que chega o momento exato, Ele quer colher.

PS -É verdade, até porque quando Deus chama, Ele dá as condições. Você sentiu isso?
A- Desde que eu estou na Guiné-Bissau eu sempre me senti amparada pelas orações, diante das dificuldades que a gente tem lá. Ficar longe de casa, da família, dos amigos, diante dos problemas que a gente tem lá. Mas tem aquela passagem bíblica: “não temas, pois eu sempre estarei contigo”. Então, sempre quando eu senti desânimo e até o momento que eu me decidi que eu ia para as missões, eu pensei: eu vou, recebi o convite e não é agora que Ele vai me abandonar.

PS- Você sentiu este chamado de ir para África, com certeza, é um chamado para sair mais do que da sua casa. É um sair de si mesma, pois é preciso todo um processo de adaptação cultural, uma inculturação. Como foi para você este processo, este período de adaptação?
A- Nós, os missionários, quando chegamos em Guiné-Bissau recebemos um curso de integração missionária. Este curso acontece todo ano, no mês de agosto. Durante todo o mês, no período da manhã aprendemos Criolo – dialeto do país. Na parte da tarde, é feita uma formação sobre a cultura e a história de Guiné-Bissau. Então, para nós, isso foi uma riqueza. Afinal é um país que fala a língua portuguesa, mas tem o dialeto; é preciso aprender um pouco da cultura. Este curso, para nós, foi ‘uma mão na roda’; ajudou a ter uma noção de como trabalhar e como ajudar. É claro que só quando você está com o povo, é que você vai realmente aprender.

PS – Em que cidade você trabalha e como foi acolhida lá?
A- Eu trabalho na Diocese de Bafatá, na Guiné-Bissau, que está a 150 km da capital. Eu fui acolhida por D. Pedro, Bispo brasileiro, pelo Pe. Espindola, padre que também esteve aqui na Rádio Colméia, e um casal de leigos brasileiro e um casal de leigos italiano. Passamos a ter uma convivência em comunidades; fomos apresentados para as irmãs. Inicialmente, se tem um momento de escuta. Primeiro, se escuta sobre o trabalho do Bispo e dos padres para, daí, ver com será o seu trabalho e como poderá ajudar.

PS -E como você se mantém lá em Bafatá?
A- A Diocese de Bafatá dá aos missionários um subsídio que pode ser utilizado para cartões telefônicos para ligar para a família, comprar uma camiseta ou um objeto pessoal. Fora isso, eu trabalho em uma escola como professora e meu salário, eu repasso para um jovem – filho da nossa cozinheira – poder estudar. Mas desde o início eu fui com o pensamento de fazer um trabalho voluntário e não ficar rica. Eu só queria ter uma casa para poder descansar e ter comida.

PS -Então é mesmo um despojamento, um desprendimento. É confiar na providência divina. E nunca lhe faltou nada?
A- Não, nunca faltou.
Ontem eu estive na Paróquia em Paiçandu falando um pouco com a comunidade; contando que a nossa paróquia (em Bafatá) se mantém totalmente com a ajuda de bem feitores e de projetos, e nunca faltou nada para nenhum dos missionários. Graças a Deus.

PS -E seu trabalho missionário e apostólico, como é? O que você faz em Bafatá?
A- Sou professora. Eu dou aula de química para turmas de 8ª série e 9ª. Trabalho também em uma casa que acolhe mulheres com gravidez de alto risco, com anemia, pressão alta, etc. Nós vamos até as aldeias com uma enfermeira; é feita a consulta e a grávida que apresenta algum desses sintomas vem para esta casa onde ela recebe assistência médica, alimentação adequada, orientação, aulas de costura. Ali elas permanecem até darem a luz. Então retornam para a aldeia e o que aprenderam, repassam lá para as outras mulheres grávidas.
Eu acompanho também o centro de recuperação nutricional, que é como a Pastoral da Criança, aqui no Brasil. Então, também vamos às aldeias fazendo a pesagem das crianças e aquelas que estão abaixo do peso, vem para este centro onde recebem a consulta, medicamento e alimentação. As mães recebem orientação e quando as crianças recuperam o peso, elas voltam para as aldeias.
Depois, eu também faço um trabalho interno junto com o Bispo. Trabalho na contabilidade e um pouco no arquivo.

PS -São muitas atividades, Adriana! Conta um pouco mais sobre o jovem que você ajuda doando o seu salário de professora para que ele possa estudar.
A- Ele é um dos quatro filhos da nossa cozinheira. Como ela cria-os sozinha, a diocese ajuda um dos filhos e, eu conversei com ela, falando que eu poderia repassar o dinheiro, porque sei que este dinheiro não vai me fazer falta por estar ajudando outra pessoa e me sinto muito feliz por isso.

PS -Adriana, é mesmo um desprendimento. Que lindo este seu testemunho. Porém, nós sabemos que nem todos podem fazer um trabalho como o seu, além fronteira. Fale um pouquinho sobre como o trabalho missionário pode ser feito também na paróquia que a pessoa reside.
A- Eu acho que todos nós recebemos um chamado para estar participando na Igreja. Seja como catequista, ministro de Eucaristia, com os jovens ou o chamado além fronteiras; todo mundo tem a chance de fazer um trabalho em sua própria paróquia. Eu comecei aos 12 anos na minha paróquia como ajudante de catequista. Então, todos recebem o convite: venham e participem.

PS -Fale deste grande amor que faz com que você realize este maravilhoso trabalho. Sobre esta sua paixão por Jesus e pelo trabalho missionário.
A- Para mim é uma grande alegria estar junto com aquele povo. Quando eu sai daqui de Maringá em 2006, eu sabia que iria encontrar dificuldades, porque você precisa recomeçar uma nova vida. Eu cheguei lá e me perguntei: “como vai ser? E agora?” Mas aos poucos Deus vai mostrando. Então você vai tendo contato com a comunidade e o acolhimento dos guineenses, do povo de lá, com os missionários já preenche esse espaço que ficou, esta falta da família, falta dos amigos. É gratificante demais fazer este trabalho voluntário, por exemplo, este trabalho com as grávidas; depois de um tempo elas trazem o bebê e nos falam que estavam na casa de recuperação das mães que tem uma gravidez de risco e que você ajudou a cuidar e por isso, elas dizem: “eu te agradeço”. E agradecem muito o trabalho que estamos fazendo pelo povo e isso é muito gratificante.


PS-Adriana, depois destes 3 anos e meio de trabalho, você tem como nos dizer quais as necessidades mais urgentes daquele povo?
A- Eles têm necessidades em todos os sentidos. Por eu ser uma leiga, eu sinto um pouco porque o povo vai sempre atrás da missão católica porque eles não tem dinheiro e precisam de um remédio ou comida, etc. E a paróquia, como já comentei, se mantém a custa de benfeitores. Agora somos 3 voluntárias brasileiras e sentimos um pouco porque, as vezes, as pessoas nos pedem dinheiro para pagar uma consulta, mas como podemos ajudar? Eu estou lá como voluntária e não tenho uma renda. Então ontem, em Paiçandu, o Pe Genivaldo propôs que todo o ano se fizesse uma campanha para ajudar as grávidas ou os estudantes.

PS -Você contou como foi importante a ajuda financeira das crianças da Infância Missionária e também da Paróquia do Pe Manoel, Paróquia Nossa Senhora de Lourdes e São Judas Tadeu. Você poderia nos falar qual foi o resultado desta ajuda?
A- Foi bonito o trabalho da Infância Missionária e da Paróquia do Pe. Manoel porque esta paróquia já está sensibilizando as crianças para que elas passem a ajudar. A Paróquia do Pe. Manoel, com as suas quase 350 crianças que doaram, cada uma, 1 real ou 2 reais. Mas foi uma doação de coração, porque as crianças estão percebendo que é necessário ajudar as outras crianças. Para nós, lá em Bafatá, foi uma alegria. Quando eu recebi a notícia que o padre fez uma campanha com a catequese, eu contei para Bispo Dom Pedro e para as outras missionárias que trabalham lá, foi muita alegria. Pois nós, que trabalhamos lá, precisamos desta ajuda. Então as crianças lá de Bafatá também fizeram pulserinhas e lembrancinhas, bordados, para as crianças da paróquia do Pe. Manoel e da Infância Missionária demonstrando a gratidão que sentiram. E agora, é bonito este intercâmbio entre a igreja de Maringá e a igreja de Guiné-Bissau.

PS -Há previsão de mais alguém ir com você para Bafatá?
A- Vai uma senhora de Rolândia que fará uma experiência de 1 mês e no mês de fevereiro irão duas jovens de Londrina que tem um projeto de permanecer 2 anos lá em Bafatá.

PS -O que você gostaria de falar para aqueles que se sentem chamados a evangelizar?
A- Eu convido todos a dizer sim ao chamado que recebem, seja num trabalho na paróquia ou além fronteiras. Não tenha medo, pois Deus estará sempre contigo.

PS –Obrigada Adriana e um grande abraço! Que Deus te abençoe na missão!
A- Eu é que agradeço! Amém!

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