A missão faz refletir à missão. Mais de três anos passaram desde minha partida do Brasil até Moçambique. Neste tempo, cresceu-me a consciência de que a iniciativa e provocação missionária foi graça do Espírito de Deus. Já na chegada me perguntava: Qual missão entre tantas missões estou sendo convocado?
O cotidiano carregado de surpresas e imprevistos, intercalado com a escuta orante da Palavra de Deus me fez pensar sobre o essencial e o conjunto da missão. Em África onde se fala e vive a pobreza absoluta, somos tentados fazer da missão um dar coisas, reformar antigas estruturas ou cair nas lógicas falidas de nosso mundo onde o dinheiro aparentemente resolva tudo. Missão para e não missão com. Ao chegar vive-se este dilema. O que fazer?
Nós missionários estrangeiros ainda somos vistos como aqueles que podem dar. Somos brancos, temos carro, casa bem situada e não nos falta comida e água. Muitos vem até nós com a expressão mackua “Mukivahe” que significa dá-me. Com mãos estendidas as crianças nos encontram vindo do mercado e nos dizem: “dá-me pão”. Se dermos pão a uma, outras aguardam nossa atitude e esperam também receber. Também nos pedem carona, medicamentos, dinheiro, emprego, cimento para construir capelas, poços nas comunidades, apoio para pequenas associações, cadernos, canetas, bicicletas, pastas e há aqueles que pedem Bíblias, terços e livros.
As marcas deixadas pelo colonialismo português, aqui acampado durante séculos, a situação de pobrezas sociais, a guerra civil, a situação política corrompida e as organizações não governamentais que aqui atuam, contribuíram e contribuem para esta mentalidade de receber. Os que chegam na missão em Moçambique passam por esta dúvida e por este teste: Dar ou não dar aquilo que te pedem. Assim fui aprendendo que é preciso dizer não, para dizer sim a um projeto de missão que construa e fortaleça pequenas comunidades ministeriais e autônomas.
A atitude de colocar-se como fraco, pobre e necessitado já é missão. Jesus nos recomenda: “Vão!...não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias”(Lc10, 3-4). A Missão evangélica se faz com meios pobres, sem barulho, sem arrogância de visibilidade e sem demonstração de força com meios poderosos onde transita altos valores econômicos. A atividade missionária dos discípulos de Jesus tem raízes pobres e atitude permanente de fé e confiança no Espírito que atua silenciosamente nos corações.
A missão entre as missões carrega um conteúdo de paz e de anúncio de que o Reino chegou. “Digam primeiro: A paz esteja nesta casa!” (Lc10,5b); “curem os doentes e digam ao povo: O Reino de Deus está próximo de vocês” (Lc10,9). Deus envia para cidades e lugares onde Ele próprio devia ir. E lhes dizia: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos”(Lc10,2). Missão de colheita. O que significa? Antes de chegarmos aos lugares concretos de missão, Deus já chegou bem antes e fez todo trabalho da graça de preparar a terra, semear, limpar e fazer crescer. Basta de nós a paciência da espera, a escuta, o conhecimento do terreno, a identificação dos frutos e a colheita propriamente dita.
Estando nas missões, ainda peregrino na busca do essencial da missão. O tesouro escondido do Reino onde habita corações apaixonados. Já descobri que o mais importante não é dar coisas, mas dar a si mesmo e partilhar dons recebidos. Valeu atravessar oceanos na busca e na oferta daquilo que a traça e a ferrugem não podem destruir. “Busquem o Reino, e Deus vos dará todas as coisas como acréscimo” (Lc12,31).
Ainda sonho que o projeto missionário que nos enviou continue oferecendo de sua pobreza, padres, irmãs e leigos(as) a outras dioceses necessitadas de Moçambique como Lichinga e também a outros países do continente africano. Não tenhamos medo, o Pai de ternura que nos envia, cuida, veste, protege, ampara e alimenta seus filhos.
Pe.Maurício da Silva Jardim
Missionário em Moçambique
Por:Valdereza S. de Souza
secretária do COMIDI
Nenhum comentário:
Postar um comentário