Queridos irmãos e irmãs
Durante o mês de outubro a Igreja no Brasil nos convida a voltarmos nossa atenção à dimensão missionária de nossa fé. Depois da morte e ressurreição de Jesus Cristo, os discípulos, que experimentaram a amizade e o amor de Deus através do seu Filho amado, sentiram-se na obrigação de levar outras pessoas a fazerem esta mesma experiência de fé, amor e amizade (cf. At 4, 20), por isso, saíram anunciando o Cristo a todas as pessoas e em todos os lugares, no templo (At 5,20-21), nas sinagogas (At 9,20), nas praças (At 17,22), a beira do riacho (At 16,13) ao longo do caminho(At 8,26).
Anunciar Jesus Cristo e seu Evangelho se tornou uma obrigação para os discípulos, como nos diz São Paulo “aí de mim se eu não anunciar o evangelho” (1Cor 9,16). Assim, seguindo o exemplo dos primeiros discípulos e o mandamento de Jesus que diz “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15) a Igreja foi descobrindo que a sua função primordial, que a essência do seu existir, consiste em ir ao encontro das pessoas a fim de levá-las a fazer uma experiência verdadeira do amor de Deus revelado em Jesus Cristo pela ação do Espírito Santo.
Durante os mais de dois mil anos de sua existência a Igreja experimentou várias formas de fazer missão, isto é, de levar o evangelho a todas as pessoas. Algumas vezes esse evangelho foi proposto como uma forma alternativa de vida, outras vezes ele foi imposto como norma de vida independente da sua acolhida por parte daqueles aos quais ele era anunciado. Muitas vezes ainda o evangelho foi apresentado como algo alheio a experiência de vida de um povo, praticamente desconsiderando a cultura e os valores desse povo. Houve também momentos em que a Igreja quase que transformou o evangelho, conteúdo de sua missão, em um conjunto de doutrinas próprias, deixando de anunciar Jesus Cristo para se anunciar a si mesma.
Preocupando-se com isso o Concílio Vaticano II discutiu amplamente a temática da missão da Igreja e publicou um decreto chamado Ad gentes, que significa, aos povos. Neste decreto a Igreja resgata o seu ser missionário quando afirma: “A Igreja, em virtude das exigências profundas de sua própria catolicidade, como ‘sacramento da salvação universal’, Foi enviada a todos os povos e, obedecendo à ordem de seu fundador, procura anunciar o Evangelho a toda criatura” (Cf. AG 1,1) e, ainda, “A Igreja peregrina é por natureza missionária. Nasce, segundo o desígnio divino, da própria missão do Filho e do Espírito Santo” (AG 2,2).
Depois do Concilio Vaticano II novos textos e documentos sobre o ser missionário da Igreja foram escritos, entre eles destacam-se: a) a Exortação Apostólica Evangeli Nuntiandi do Papa Paulo VI, sobre a evangelização no mundo contemporâneo e; b) a Encíclica Redemptoris Missio, do Papa João Paulo II, sobre a validade permanente do mandato missionário.
Recentemente a Igreja da América latina, publicou o documento de Aparecida, fruto da V Conferência dos Bispos da América Latina e do Caribe realizada em Aparecida – SP, em 2007, com o tema “Discípulos Missionários de Jesus Cristo para que Nele nossos povos tenham vida”. Este documento possui um caráter extremamente missionário. Nele a Igreja nos convida a recomeçarmos à partir de Jesus Cristo, ou seja, a voltarmos ao essencial. Nossa missão é anunciar Jesus Cristo e ajudar as pessoas a fazer um encontro pessoal com Ele, pois só ele pode nos oferecer a verdadeira salvação, só ele é o caminho que nos leva ao Pai (Jo 14,6), só ele tem palavras de vida eterna, e sem ele nada podemos fazer (Jo,6,68).
Com o intuito de seguir Jesus numa Igreja em estado permanente de missão, é que a nossa diocese, no último dia 29 de agosto, sediou o Congresso Missionário da Província Eclesiástica de Maringá, no Ginásio de Esportes de Marialva. O Congresso contou com a presença de missionários/as das dioceses de Umuarama, Paranavaí, Campo Mourão e Maringá. Este Congresso teve como tema: “Paróquias Missionárias à Luz de Aparecida”.
Durante toda a manhã houve exposições sobre o tema, bem como apresentações teatrais que representaram toda a trajetória das paróquias desde a sua origem até a proposta do novo modelo paroquial sugerido pelo documento de Aparecida. Na parte da tarde destacamos alguns testemunhos de Missionários/as que deixaram suas paróquias para evangelizar além fronteiras. Também, reservamos algum tempo para prestigiarmos algumas apresentações culturais, uma vez que o anúncio do evangelho não pode desconsiderar os elementos culturais de cada povo. Para coroar este Congresso, Dom Anuar Battisti, presidiu a Santa Missa, que contou também com a participação de vários padres de nossa diocese e também de outras dioceses da Província Eclesiástica. Após a Missa o grupo Cantores de Deus se apresentou alegrando e animando aqueles que voltariam para suas dioceses e paróquias para ali continuarem a missão da Igreja, despertando novos discípulos missionários de Jesus Cristo para o mundo. Este é um dos principais objetivos dos Congressos, reacender o fervor missionário daqueles que já se dedicam à missão e despertar novos e fervorosos missionários/as para o reino de Deus.
Desejo concluir este pequeno artigo com um breve texto extraído do Documento de Aparecida:
“Nosso desejo é que esta V Conferência seja um estímulo para que muitos discípulos de nossas Igrejas vão e evangelizem na “outra margem”. A fé se fortalece quando é transmitida e é preciso que entremos em nosso continente em uma nova primavera da missão “ad gentes”. Somos Igrejas pobres, mas “devemos dar a partir de nossa pobreza e a partir da alegria de nossa fé” e isto sem colocar sobre alguns poucos enviados o compromisso que é de toda a comunidade cristã. Nossa capacidade de compartilhar nossos dons espirituais, humanos e materiais com outras Igrejas, confirmará a autenticidade de nossa nova abertura missionária. Por isso, estimulamos a participação na celebração dos congressos missionários” (DA 393). Aparecida também nos lembra que: “Esta firme decisão missionária deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais de dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e de qualquer instituição da Igreja. Nenhuma comunidade deve se isentar de entrar decididamente, com todas suas forças, nos processos constantes de renovação missionária, de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé” (DA 397).
Pe. Emerson Cícero de Carvalho
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