segunda-feira, 5 de julho de 2010

Assembléia do COMIRE: RUMO À PARÓQUIA MISSIONÁRIA

Olá, amigos missionários
Lembramos que dias 16, 17 e 18 deste mês teremos a Assembléia do COMIRE - Conselho Missionário Regional, em Londrina. Os interessados em participar devem entrar em contato com a Pedrina (pedrinasouza01@gmail.com) para combinarem maiores detalhes.
Haverá avaliação da caminha e formação para direcionarmos nossos trabalhos posteriores. Segue abaixo o texto que será a base para a realização das atividades no decorrer da Assembléia:

RUMO À PARÓQUIA MISSIONÁRIA

Às origens da estrutura paroquial

A paróquia como nós a conhecemos hoje, começara a crescer e a se organizar a partir do século IV, quando o cristianismo tornou-se religião do Império Romano em 380. Com o crescimento do número de cristãos veio a exigência de novos centros de atendimento. Nos séculos IV e V as igrejas locais começaram a se estruturar em Roma e até o século XII não terão muita diferença ou distinção em relação às dioceses. Com a expansão da ação missionária dentro do Império, a partir do século VI em diante a Igreja vai se estruturando geograficamente, ligando-se muitas vezes às formas civis de poder e administração. Até o século XI se configura de vez o caráter de territorialidade das paróquias, que foram oficialmente reconhecidas pelo Concílio de Trento no século XVI. O código de direito canônico de 1917 dá formas definitivas do que seja uma paróquia.

Com a evangelização no Brasil no século XVI, a paróquia ganhou um caráter civil e burocrático. Durante a colonização, a implantação da Igreja era, com efeito, uma obrigação do Rei (Espanha ou Portugal) e não diretamente do Papa. O pároco era um funcionário do Rei, investido de autoridade sagrada e real, com cargo vitalício adquirido por meio de concurso. A paróquia nas pequenas cidades do interior em formação indicava a presença do Estado e da Igreja, ao mesmo tempo em que regulava não apenas a vida religiosa, mas também as relações sociais, jurídicas e políticas. A paróquia tornou-se lugar de prestação de serviços. À Igreja coube exercer inúmeras funções burocráticas em nome do Estado, desde os dízimos, tributos a serem pagos à Coroa, e as desobrigas, verdadeiros censos da população interiorana, até a outorga de atestados de nascimento e de morte.

Esta oficialização da paróquia trouxe o benefício da organização e da melhoria do atendimento da população, sobretudo da zona rural, mas em contrapartida trouxe o prejuízo da institucionalização, da separação entre comunidade e missão e uma perda do dinamismo missionário. Desde então, para muitos, a paróquia passa a ser vista como um lugar onde se pode cumprir uma série de preceitos e obrigações que são impostas aos cristãos. Sobretudo diante da explosão urbana do século XX a paróquia perdeu em muito a sua eficácia pastoral.


Hoje o Direito Canônico define a Paróquia desta forma:
“Paróquia é uma determinada comunidade de fieis, constituída estavelmente na Igreja particular, e seu cuidado pastoral é confiado ao Pároco como a seu pastor próprio, sob a autoridade do Bispo diocesano” (Cân. 515)
Ø Sinais de renovação paroquial antes do Vaticano II

A partir das primeiras décadas do século XX, vão surgindo outras preocupações na Igreja. Despertam-se movimentos que vão ajudar na renovação paroquial; renovação esta que vai ter o seu momento cume na era pós-conciliar. A partir de 1925 o movimento litúrgico faz entender a Igreja como comunidade litúrgica, ressaltando o valor das assembléias litúrgicas e celebrativas. Na década de quarenta surge na França o movimento renovador que levará a entender a paróquia como comunidade missionária e evangelizadora, sem alterar, contudo a sua estrutura física. Nos EUA surge o propósito de fazer da paróquia um grande centro social, quase que substituindo outras entidades sociais e familiares. Mas não era ainda o desejado. Graças a diversos teólogos como Congar, Rahner e outros, umas séries de mudanças puderam acontecer a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965) com uma nova visão de Igreja: a de “Povo de Deus”. Mudanças estas que levarão a uma modificação no espírito que animava as paróquias que de ora em diante passarão a ser vistas como COMUNIDADE DE COMUNIDADES.


A Paróquia após o Concílio Vaticano II

Apesar de sua influência na vida e organização da Igreja, ainda hoje se encontram vários modelos de organização paroquial que convivem ao mesmo tempo e as propostas do Vaticano II, 44 anos depois de seu encerramento, continuam como um sonho, distante sim, mas não impossível. No modelo de paróquia ao estilo do Concílio, a Igreja recupera a sua condição de povo de Deus e a instituição ganha um peso menor em relação ao carisma e à missão. Existe abertura para a participação de todos na co-responsabilidade, divisão de funções e serviços. As funções vão se completando e integrando; e, tanto o aspecto litúrgico, celebrativo, evangelizador, e administrativo tem a sua importância. Na paróquia pós-Vaticano II, o protagonismo do leigo e da mulher é ressaltado e a diversificação de serviços e ministérios é incentivada. No espírito de Concílio, a paróquia recupera o seu dinamismo e a sua força missionária.

A definição referente à paróquia que encontramos no “Catecismo da Igreja Católica” está formada de duas partes:
- Na primeira parte encontra-se a definição já mencionada pelo “Código de Direito Canônico”.
- Na segunda parte focaliza mais as diversas funções da paróquia: lugar onde os fieis se congregam para a celebração Eucarística, lugar da iniciação cristã e da prática da caridade. (cf. 2179)


Outros Documentos do Vaticano II nos ajudam a focalizar a dimensão missionária da paróquia: Ad Gentes: (2; 35; 36; 39b), Christus Dominus -Referente aos Párocos- (30c); inclusive a necessidade de uma abertura à universalidade para uma verdadeira renovação das comunidades eclesiais. (cf. AG 37b)
Mudanças que questionam a paróquia em sua ação evangelizadora e que sinalizam uma mudança de época

As profundas transformações ocorridas na sociedade mundial nas últimas décadas apontam para uma mudança de época. A 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e Caribenho mostrou esta preocupação afirmando que “os povos da América Latina e do Caribe vivem hoje uma realidade marcada por grandes mudanças que afetam profundamente a própria vida” (DAS 33). O que chama a atenção é que “a novidade dessas mudanças, diferentemente do ocorrido em outras épocas, é que elas têm alcance global que, com diferenças e matizes, afetam o mundo inteiro” (DA 34). Nem precisa mais se perguntar se estamos em época de mudanças ou numa verdadeira mudança de época; o Documento de Aparecida sem meio termo afirma categoricamente que “vivemos numa mudança de época, e seu nível mais profundo é o cultural. Dissolve-se a concepção integral do ser humano, sua relação com o mundo e com Deus; aqui está precisamente o grande erro das tendências dominantes do último século... Quem exclui Deus de seu horizonte, falsifica o conceito de realidade e só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas” (DA 44).

As mudanças que vem ocorrendo na sociedade desde os anos 60 afetando profundamente a realidade paroquial.
· Industrialização
· Migração do campo para a cidade
· Fenômeno Urbano
· Cultura Urbana
· Pentecostalismo
· Pluralidade Cultural
· Pluralidade Religiosa
· Perda de Identidade dos Católicos
· Globalização
· Consumismo desenfreado

Alguns sintomas destas mudanças
As profundas mudanças em curso fazem-se sentir em sintomas muito concretos: individualismo, subjetivismo, relativismo, secularismo. As conseqüências a que estamos assistindo é que mergulham a uns na insegurança e no medo e, a outros, no desafio de dar respostas novas as novas perguntas.

As conseqüências dessas mudanças na vida eclesial
Na esfera eclesial, Há igualmente sintomas que atestam a influência das vicissitudes de nosso tempo. Na esteira do individualismo reinante está o deslocamento da militância para uma pseudo-espiritualidade. Do seio das comunidades, a mística é deslocada para a esfera da subjetividade e salvação passa a ser sinônimo de satisfação de necessidades materiais, físicas e psíquicas.
Pouco a pouco, o sistema liberal capitalista, que tudo privatiza e individualiza, vai inviabilizar a especificidade do cristianismo: a vivência da fé no seio de uma comunidade. A crise generalizada das instituições, a Igreja entre elas, contribui para a emergência de “igrejas invisíveis”, comunidades emocionais, em que cada vez mais se tem dificuldade em crer com os outros e naquilo que os outros crêem.

É a partir destas considerações que podemos compreender melhor as palavras de Aparecidas quando nos lembra que “a conversão pastoral implica escutar com atenção e discernir ‘o que o Espírito está dizendo às Igrejas’ (Ap 2,29) através dos sinais dos tempos em que Deus se manifesta” (DA 366).

È urgente tomar consciência das mudanças sociais, culturais e antropológicas que caracterizam a nossa época e que afetam profundamente o âmbito paroquial.
O contexto paroquial de ontem não corresponde mais ao contexto de hoje; e, para novas perguntas precisamos formular novas respostas. “Não resistiria aos embates do tempo uma fé católica reduzida a uma bagagem, a um elenco de algumas normas e de proibições, a práticas de devoção fragmentadas, a uma participação ocasional em alguns sacramentos sem chegar a uma profunda conversão” (cf. DA 12). Portanto “a conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária” (DA 370).

O novo rosto da paróquia traçado à luz das Conferências Gerais

Medellín - 1968 (10; 13)
Puebla - 1979 (644; 649)
Santo Domingo - 1992 (58; 61; 257)

Aparecida - 2007
Para uma Paróquia Missionária
a) Resgatando a dimensão comunitária da paróquia (304)
b) A renovação da paróquia no início do terceiro milênio (172)
c) Deve ser “comunidades de comunidade” (309; 517e).
d) Todas as nossas paróquias devem se tornar missionárias (173).
e) De uma pastoral de “conservação” a uma pastoral “missionária” (370).
f) Centro de irradiação missionária no âmbito paroquial (306).
g) Novas atitudes por parte dos Párocos e Sacerdotes (201)
h) Desburocratização da paróquia (203)
i) Solidariedade e compromisso com os pobres (176)
j) Renovar a opção preferencial pelos jovens (446a)
k) Todos os membros da comunidade paroquial são responsáveis pela evangelização (171).
l) Todos os paroquianos devem se transformar em discípulos missionários (172).
m) Investir na formação de leigos missionários (174).
n) Despertar o voluntariado missionário, nacional e internacional (372)
o) Entrar num processo constante de renovação (365)
p) O grande horizonte norteador de nossas paróquias: a Missão ad Gentes (379)
Conclusão

“Às vezes, percebe-se a preocupação de que a missão roube forças à Igreja, à comunhão. Às vezes a pastoral se torna, até involuntariamente, uma pastoral de conservação dos templos e dos cristãos, uma pastoral de defesa e autopromoção. A Igreja perde, assim, força, entusiasmo, vitalidade missionária. Diminuem vocações e ministérios, nascem brigas e briguinhas entre grupos, fofocas, cansaço, desânimo. Não será demais repetir: ‘Água parada apodrece’ e ninguém gosta dela. É preciso que a água que jorra da fonte (Deus), corra sem nunca mais parar ‘até os confins da terra’; para que todos os sedentos possam vir e beber desta água, encontrando força e revigoramento. Não é teoria, é experiência: ‘A Igreja não pode crescer, se não manifesta, para quem está longe, a mesma preocupação que tem para quem está perto’ (AG 37)”. Assim escrevia o Pe. Paulo de Coppi nos 1994.

“De fato, a missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. È dando a fé que ela se fortalece” (RM 2)

“A maturidade de uma Igreja local é fortalecida, na medida em que ela se abre a outros horizontes e contextos eclesiais, sociais e culturais: passa, então, ao assumir, co-responsavelmente, o mandato do Senhor de evangelizar todos os povos” (Documento 40 Cnbb - 118).

“A maturidade eclesial é conseqüência e não apenas condição de abertura missionária” (Documento 40 Cnbb - 119).

“Ao organizarmos nossas pastorais, articulando-as entorno das quatro exigências da evangelização - serviço, testemunho, diálogo e anúncio -, devemos ter o cuidado de não passar a idéia de que o anúncio é missão apenas de alguns. O anúncio, mais do que obrigação do cristão, será sua alegria, a revelação do sentido profundo de sua vida partilhada com os outros. ‘Ai de mim se não evangelizar’ (1ª Cor 9,16) exclamava São Paulo” (Documento 80 Cnbb - 3.1.2)

Portanto:
“Impõe-se uma conversão radical da mentalidade para nos tornarmos missionários” (RM 49)

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